
Era noite de Natal. Sentada na beira da cama, a janela me permitia ver as luzes piscando de forma incessante e os flocos de neve que caíam vagarosamente, se difundindo com as cores da decoração lá de fora. Já eram quase onze horas da noite e eu nem ao menos havia me vestido, até que alguém bateu na porta e me disse que todos já estavam lá embaixo. Abri o guarda-roupas e puxei dele um vestido qualquer, levando-o até meu corpo e vestindo-o. Dei uma breve passada pelo espelho, apenas ajeitei os fios de cabelo com a própria mão e cocei os olhos, na tentativa de espantar qualquer indício de sono. Respirei, desliguei a televisão de desci.
A casa estava cheia. Haviam lá pessoas das quais eu nunca havia visto na vida, pessoas que pareciam ter brotado do chão. Passei quase que despercebida, a não ser quando uma senhora loira, cuja roupa brilhava mais do que minha própria árvore de Natal me barrou. Soltou um longo e alto "Nossa, como você cresceu!". Eu já deveria saber que haveria uma peça dessas na festa. Dei um breve sorriso e segui pela sala apenas distribuindo sorrisinhos cínicos como cumprimento às pessoas.
Me sentei na poltrona próxima a árvore decorada e fiquei ali, pensando longe, mas com os olhos presos às luzinhas que piscavam. Pensei em tantas coisas, em como minha vida mudara desde a última ceia e a forma como as coisas nela haviam ficado depois disso. Me lembrei de como houvera sido o Natal anterior. Nada se comparava àquele ano. Tudo ainda tinha sentido e era realmente divertido comemorar o Natal. E hoje? Ah, hoje estava tudo certamente diferente. Lembrar da vida que eu tinha naquela época, e que bruscamente mudara em apenas trezentos e sessenta e cinco dias me deixava um tanto quanto deprimida. Cada membro da família estava em um canto da cidade, e mal notícias tínhamos. Me diz se tem graça comemorar sem a família? Acredite, colegas de trabalho da sua mãe não substituem, nem de longe, sua familia. Não mesmo.
Desviei o olhar das luzes para a janela. Era relativamente grande a movimentação lá fora e os ponteiros do relógio mostravam que não faltava muito para a meia noite. Dei um último bocejo e uma última olhada pela janela até que a campainha anunciava já ser meia noite. Fechei meus olhos, idealizei o Natal em que eu gostaria que acontecesse e quando os abri, prometi a mim mesma que não mediria esforços para fazer da minha próxima ceia, a melhor de todas. Afinal, só eu poderia fazer com que as coisas acontecessem.
*texto fictício*