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terça-feira, 24 de abril de 2012

Entre blocos, passagens e feminilidades.


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Paris, França. Outubro de 1929.

      A estação era inundada pela luz do entardecer. Os bancos de madeira, agora levemente dourados por conta da claridade, estavam em sua maioria vazios. A jovem mulher dos curtos cabelos louros - diga-se de passagem quase brancos -, lábios vermelhos e corpo perfeitamente encaixado em um vestido de seda nude, vestia uma peça de pele sobre os ombros, que fazia qualquer um acreditar que estava devidamente protegida dos ventos do outono parisiense. Enganados. A pele e nada acabariam surtindo quase o mesmo efeito, se não fosse pelo fato de que as francesas da época raramente saíam pelos arredores da cidade com os ombros descobertos.
      Estava sentada no banco que ficava exatamente no meio da plataforma de embarque da estação, com o corpo perfeitamente alinhado, postura de quem havia recebido rígidas aulas de etiqueta. Poucos sabem que a moça nunca nem soube o que eram etiquetas e tampouco precisara delas. Estava a escrever em um bloco de notas, encapado por couro vermelho, com uma caneta de tinta preta. Na ponta da estação, no último banco, sentou um homem engravatado, de preto da cabeça aos pés, o que não era de todo o mal. Pôs-se a encarar a moça, mesmo que à distância, e pegou-se tentando decifrar o que tanto era anotado naquele bloco. Pensou em mil coisas, mas de certo nenhuma era o que realmente estava no papel.
      Viu-a revirar a pequena bolsa de mão, e em seguida retirar o bilhete. Apalpou seus bolsos para se certificar de que o seu estava ali. Concluiu que provavelmente pegariam o mesmo trem, e melhor: se o destino fosse gentil, poderiam até sentar juntos. Ouviu o trem apitar de longe, juntou sua bagagem e levantou-se do banco frio. Caminhou lentamente até a moça, na esperança de chegar antes do vagão estacionar. Parou ao lado do banco, e encarou-a. Ela subiu lentamente olhar do bloco, mas logo voltou seus olhos para as escritas. Deu uma última rabiscada assim que o trem parou na estação, fechou o pequeno quadrado de notas e perguntou ao homem se teria um pedaço de papel para lhe emprestar. Fora de si diante de tanta beleza, até esquecera que a moça possuía em mãos um punhado de folhas em branco e pegou o único papel que tinha nos bolsos sem nem perceber que era sua passagem. Entregou à ela, que recebeu com a mão fina e delicada, escrevendo algo ali, fazendo uma dobradura minuciosa e deixando a passagem cem vezes menor do que já era. Colocou-a de volta no bolso do homem, que não tirou os olhos da jovem até que ela entrasse no vagão.
      Passou a mão pela abertura do bolso e retirou a dobradura. Passou longos minutos desdobrando o papel com cuidado, sem nem perceber que a dama deixara cair o bloco de notas ao subir no trem. Entretido, ainda tentando desamassar a passagem, se assustou com o apito vindo da cabine do vagão e com o barulho que este fazia ao sair da estação. Indignado, pegou o bloco caído perto dos trilhos e pôs-se a ver seu trem distanciar-se, enquanto estava desamparado com o pequeno quadrado de couro vermelho em mãos.
   A passagem? Nada mais do que um "bonjour" escrito com letras tremidas.

Beijos e me liga para contar do que você acha que estava escrito no bloquinho de notas :*

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quarta-feira, 4 de abril de 2012

Dois. Ou não.

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     Começou pelo papel. Colocou-o sobre a mesa e pôs-se a encará-lo; tão branco que chegava a ofuscar seus olhos. Liso como se tivesse acabado de sair da fábrica.
     Pegou o lápis. Passou-o pelos dedos e encostou a ponta afiada no papel. Decidiu usar caneta. Mudou de ideia e voltou para o lápis; sua letra saía melhor com ele. Repousou-o de volta no papel, sem saber por onde começar e se deveria realmente fazê-lo.
      Havia recebido a proposta de pôr em folha limpa a definição do que era ser um casal. Passou noites virando e revirando na cama e se questionando sobre o que, aparentemente, seria uma pergunta óbvia de se responder. Pensou em todos os casais que conhecia, e embora todos fossem parecidos, mantinham uma série de diferenças entre si. Havia os que brigavam mais do que se amavam; estes eram seus pais. Havia os que estavam juntos há pelo menos cinquenta anos; como seus avós. Tinha também os casais de faixada, como a vizinha lá do 55, que mantinha com o marido uma relação que o prédio todo sabia que era pura farsa, muito embora só os dois não percebessem. Ou até percebiam. Tinha os recém-casados, os namorados, os noivos, os enrolados, os que ficavam só na troca de olhares.
     O que é ser um casal? É estar do lado sempre, independente do que aconteça? É somente dar amor? É só o físico? É um misto de confiança, amor recíproco, companheirismo e mutualismo? Ou ser um casal é também ter ciúmes, brigar, xingar e ser teimoso?
     Ela voltou para o papel, mas depois de pensar sobre tudo o que um casal é e constrói sobre si, finalmente soube exatamente o que poria na folha: nada. Casais são como folhas brancas; é você quem vai decidir o que vai ser escrito ali, qual a história que vai ser contada nele e o que ele vai significar. Ou se não vai significar nada. É você quem vai trabalhar nele para que seja o que você quer. Casais não são feitos sob forma ou medida: são moldados. Por duas pessoas.

Beijos e me liga para dar a sua definição do que é ser um casal :*

PS: Estou perdendo o jeito da escrita. Sentei inúmeras vezes para escrever essa semana e não consegui uma vírgula. Ficou confuso, eu sei. Não consegui passar a ideia que queria, mais uma vez.
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