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terça-feira, 29 de outubro de 2013

Pelo direito de estar triste.



       Acordei com o despertador tocando incessantemente como quem grita por ajuda. Mas ao ver a hora, quem quis pedir por socorro fui eu. Era quarta-feira, a notícia boa era que já havia se passado dois dias desde o começo da semana; mas a ruim era que ainda faltavam mais dois para o fim dela. Permaneci deitada por mais uns cinco minutos desde que o despertador havia tocado e fiz uma lista mental de tudo o que eu deveria fazer durante o dia. Não tinha nem me levantado, mas já calculava quanto tempo faltava pra eu voltar para casa e poder dormir. Eu não queria que o dia começasse.
       Me sentei à beira da cama e me olhei no espelho que ficava à minha frente; não me senti feliz com o que via e percebi que o dia seria difícil para mim. Calcei os chinelos, fui até a cozinha preparar meu café e, enquanto observava a água ferver, me dei conta de que estava acompanhada de uma peculiar sensação que não costumava acordar comigo. Eu só queria pegar minha xícara de café e voltar para a cama; e passar o dia todo lá, sem nenhuma obrigação de interagir com qualquer coisa que fosse externa à minha casa. Não estava com paciência para trânsito, para problemas, para pessoas. Estava triste.
       O processo de me alimentar, me arrumar e sair de casa não levou mais que uma hora. Tranquei a porta e chamei o elevador; quando ele chegou, vi que duas senhoras já estavam lá dentro. Entrei e respondi aos cumprimentos com um sorriso esboçado e um positivo com a cabeça. Observei, de canto de olho, que as duas senhoras se entreolharam. Ignorei. Saí do elevador e o mesmo cumprimento me foi dado pelo porteiro, que foi respondido com "bom dia" calmo e baixo. Percebi que ele arqueou as sobrancelhas como forma de reprovar a minha atitude de não tê-lo cumprimentado com maior fervor. Ignorei novamente.
   Enquanto esperava o ônibus, parada de braços cruzados na tentativa de inibir o frio que o vento trazia, muitas pessoas passaram por mim. E me pareceu que o simples fato de eu estar encostada no poste, quieta, observando a ponta dos meus sapatos, era o suficiente para as pessoas me olharem diferente. Pensei no incômodo que seria ter de lidar com um ônibus cheio durante uns 40min até chegar ao meu destino. E não foi diferente.
       Cheguei ao trabalho e respondi o necessário às coisas que me eram questionadas. Recebi alguns "você está bem?" e uma porção de "aconteceu alguma coisa?", além de notar cochichos de pessoas que me observavam de longe parecendo não se importarem em manter a discrição. Sem mencionar o cartão de visitas que eu encontrei em minha mesa, quando voltei do almoço. Doutor Marcos, psicólogo.
       Sabe, é difícil viver em um mundo onde acordar triste é quase um crime. Talvez se eu tivesse matado alguém, teria sido menos acusada. Não me lembro de ter ficado sabendo de alguma lei que obriga as pessoas a serem sempre felizes e gentis e amáveis durante 24h por dia, 7 dias por semana. Não estava com raiva, tampouco descontei minha insatisfação em alguém. Só não me dei o trabalho de socializar quando, na verdade, eu queria era ficar só comigo mesma.
      Não consigo ver nada de errado em estar triste; é um sentimento tão original quanto qualquer outro. Tanto quanto a felicidade, inclusive. Mas sabe por que é pecado entristecer-se? Porque na propaganda da margarina, todo mundo acorda feliz da vida e toma o café-da-manhã rindo e festejando, como se a gente nunca levantasse morrendo de sono e querendo dormir a manhã toda. Porque no comercial do absorvente, a moça sai saltando alegremente à la Daiane dos Santos e, pasme: de roupa branca; como se isso fosse humanamente possível. Porque na propaganda do adoçante, a mulher aparece linda e magra como se desse pra ser feliz fazendo dieta e "adoçando" seu suco com um líquido que tem gosto de remédio. Estar triste é punível de morte porque nos foi ensinado que devemos sempre ser melhores e mais alegres que os outros. E que não há nada que derrube uma pessoa tão facilmente quanto mostrar que sua felicidade é maior que a dela. Mesmo que você só esteja fingindo.
      Que não tenhamos receio de assumir quando não estamos bem. Felicidade é um estado de espírito e não um destino. Se não dá pra ser feliz todo dia, que troquemos, então, a felicidade fingida por uma tristeza assumida. Desde que sentida, é claro.

Beijos e me liga quando você estiver triste :*

Olá! Vocês se lembram quem sou eu? Costumo escrever, de vem em nunca, neste tão abandonado blog. Mas ó, tenho boas notícias (ou não): essa saga tá acabando. O ano tá terminando e, com ele, os vestibulares também! Só mais algumas semanas e eu entrarei em férias, tendo longos e deliciosos t.r.ê.s meses de descanso. Aliás, tô carente de tags para responder. Quem tiver alguma por aí e quiser me indicar, vou gostar muito!