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sexta-feira, 11 de março de 2011

Abrir mão.


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Ela caminhava pelo parque, com o vento movimentando a barra do seu vestido florido, e o casaquinho de linha branco, que só ela sabe quantas vezes já o usou. Seus passos lentos pelo gramado denunciavam, sem deixar dúvidas, que ela não sabia o motivo exato pelo qual estara ali. Carregava no ombro esquerdo a bolsa de pano, sua fiel companheira.
Fizera frio a semana toda; chovera, ventara e hoje o tempo tinha dado uma breve trégua, deixando uma espessa neblina pela cidade toda. O lugar já estivera mais cheio, afinal, não é lá muito comum sair de casa para passear no parque em dias de chuva.
Debaixo da árvore, ela se acomodara, jogando de lado a bolsa e recostando-se no tronco. Juntou as duas partes do seu casaco, unindo-as pelo único botão que sobrara nele; cruzou os braços, acomodando as mãos em teus ombros. Gesto esse que mais se parecia um auto-abraço. Um abraço que há tempos não recebia, mas que só ela sabia que falta que ele fazia. Deslizou a mão pelo zíper da bolsa e abrindo-a, tirou de lá um envelope amassado com algumas fotos dentro.
Levantou-se e seguiu em direção ao lago. Ajoelhou-se à sua beira, sentindo o frio que a grama oferecia. Sentando-se sobre as próprias pernas, abriu o envelope e ousou puxar dali a primeira fotografia. Hesitou em tirá-la por inteiro, pois sabia que se fizesse isso, nunca conseguiria fazer o que estava prestes a ser feito. Dobrou a aba do que servia de abrigo às fotos, acariciou pela última vez o papel, e passou os olhos pelo escrito que constava ali. "Que seja eterno enquanto dure". Com um nó na garganta e toda a força do mundo para conter o choro, deixou que o envelope caísse sobre as águas. Em poucos minutos, nem sinal das fotos restava mais.
Passou a mão pelo pescoço, e desprendeu a corrente dourada. Com o relicário delicadamente respousado na palma de suas mãos, soltou um suspiro. Abriu-o e o encarou por um último instante. Duas pequenas fotos, dois sorrisos, dois jovens, duas vidas, dois caminhos que se cruzaram e depois se descruzaram. Relembrou, vagamente, do lindo casal que formavam. Mas infelizmente, isso não foi o suficiente para que ela pudesse se conter e esquecer a ideia de que tudo acabara. Com a corrente entrelaçada entre os dedos, foi descendo lentamente a mão até que o pingente pudesse tocar a água, e consequentemente, deslizasse pela pele clara e caísse. Ela manteve seus olhos fixados no objeto dourado até que ele desaparecesse.
Com o dedo indicador, limpou a única lágrima que derramara. Apanhou a bolsa, levantou-se e foi embora.

Beijos e me liga para contar das lembranças que você já desfez :*


PS: Resolvi inovar um pouco e colocar uma música para dar mais ênfase ao conto. E por mais incrível que pareça, este foi um dos textos que eu mais gostei de escrever.
PS2: Comente, deixe sua marquinha aqui ;)

6 comentários:

  1. vc tem muito talento! parabéns o post esta lindo!!

    http://osilenciodaspalavrass.blogspot.com/

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  2. Que lindo Yasmin, vc tão nova e com talento pra nos brindar com escritos tão cheios de sentimentos...adorei seu conto! Lembranças são sim, difíceis de serem desfeitas, mesmo que sendo levadas com a correnteza!bjs moça!

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  3. Nunca consegui me desfazer delas, mas aprendi a usá-las quantas vezes eu quiser pra relembrar tudo de novo. Agora, que música maravilhosa é essa???? Vou postar no meu blog, tá?

    Bjs linda!

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  4. Praticar o desapego é tão doloroso quanto necessário não ? Texto mais doce apesar de triste, e os detalhes fizeram-me ver toda a cena passando diante de meus olhos. Coisa linda viu Yasmin ? Beijo []

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  5. Ai esse me deu até um nó na garganta.
    Lembranças...
    Lindo *-*

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Não leio mentes ainda, então não vou saber o que você achou a menos que comente.